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O silêncio que fala de nós

Imagem: 袁 勇博 | Pexels

Leia ouvindo: Pointless - Lewis Capaldi 💭


Estou sentado na cadeira do aeroporto, lendo um livro de Dostoiévski, enquanto ouço a playlist “ouvir lendo”. Tento me concentrar na leitura, mas meus pensamentos insistem em estar em outro lugar. É como se cada palavra que leio estivesse conectada ao que sinto no momento. De repente, as lágrimas surgem mais uma vez, discretas, mas impossíveis de evitar.


Não é a viagem que está mexendo comigo agora, nem o destino. É o vazio de saber que a pessoa que, hoje, mais significa para mim não está aqui, não faz parte deste momento. É estranho perceber como a ausência pode causar tanto sentimento.


Acredito que o amor, hoje, é o sentimento mais lindo que existe. Ele tem essa capacidade de transformar tudo. O amor te dá forças e, ao mesmo tempo, expõe sua maior vulnerabilidade. Parece que amar o próximo nos torna mais humanos, mais humildes. Ele nos faz alcançar a versão mais pura e verdadeira de quem somos, como se o nosso corpo físico reconhecesse que não somos completos sozinhos.


Mas amar nem sempre significa possuir. E, por mais que isso doa, sei que fomos feitos para amar. É seguro amar.

O amor, em sua essência, é puro, intenso, único. Ele conforta e dá sentido à vida, mas nem sempre segue por um caminho fácil.

Eu amo observar as pessoas ao meu redor. É uma maneira de distrair meu coração. Gosto de reparar como cada pessoa carrega algo único dentro de si: o jeito como a senhorinha se acomoda na cadeira, a ansiedade da criança que verá o avião pela primeira vez, a moça do embarque conferindo os documentos, a risada de um casal que embarca para a lua de mel.


Esses pequenos detalhes me ensinam tanto. Eles mostram que eu não sou o único a desejar algo, e me fazem aprender que a vida vai além disso. Revelam que, no fundo, todos estamos buscando algo. Acho que, mesmo sem admitir, todos buscamos o mesmo: alguém que possamos amar e que nos ame de volta.


Mas sei que é diferente. O amor que imaginamos é diferente do amor que encontramos. Ele é cheio de imperfeições, momentos não correspondidos e despedidas que não escolhemos. Ainda assim, insistimos, porque sabemos que, em meio a tudo isso, há algo maior que vale a pena. A esperança. É ela que nos impede de desistir. É ela que, às vezes, nos faz acreditar que o momento certo ainda vai chegar.


E cá estou eu, indo para uma viagem que tanto desejei, ao lado de amigas especiais. Perco-me entre um livro clássico e músicas escolhidas com carinho, tentando fazer as pazes com essa pequena saudade. Saudade que me lembra que mais um ano passou e ainda não chegou a hora certa de estar com alguém que deseje estar comigo.


Nossa, como é difícil aceitar que nem sempre quem queremos ao nosso lado pode estar. É difícil, complicado, mas necessário. AMAR TAMBÉM É ENTENDER AS DESPEDIDAS, OS ENCONTROS QUE NÃO ACONTECERAM, OS SILÊNCIOS. Amar é respeitar os espaços e, acima de tudo, continuar amando, mesmo que aquilo que nunca começou já tenha acabado.


Talvez amar, de fato, seja isso: o constante aprendizado de que não temos controle sobre o que não podemos mudar. Não existe uma varinha mágica para trazer quem desejamos para nossas vidas. E, ainda assim, o amor segue sendo a coisa mais bonita que podemos buscar. Ele continuará nos ensinando que amar ainda vale a pena. E que o amor, sempre, vale a luta.


Com amor, James.

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