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Os traumas que nunca foram esquecidos

 

Imagem: ORHAN BADUR \ Pexels
Leia ouvindo: Fix You – Coldplay 💭

Hoje, enquanto conversava com alguns amigos, o tema "infância" veio à tona de forma aleatória. Um assunto que, à primeira vista, pode parecer leve, mas que carrega um peso para muitos de nós. Ao ouvir as experiências de cada um, falei sobre as minhas, e milhares de pensamentos passaram pela minha mente. E, como sei que voltar ao passado nem sempre é fácil, lá estavam eles novamente: os meus traumas.  

Não se trata de uma memória de quando eu tinha 6 anos ou de algo que o tempo apagou. 'NOSSOS TRAUMAS NÃO PEDEM LICENÇA, NÃO SEGUEM UMA ORDEM CERTA PARA CHEGAR E AVISAR: 'EU VOU ENTRAR'. Eles invadem nossa mente nas madrugadas e nos encaram de frente em cada situação que nos desafia. É impossível fingir que não estão ali, que não vão nos afetar de alguma forma.  

A gente ouve muito a frase “o que não te mata, te fortalece”, mas eu discordo. Nem todo sofrimento nos fortalece. Às vezes, ele só cansa. Cansa o corpo, cansa a mente, cansa o coração e te deixa exausto. A vida, por si só, já é um desafio. E não é sobre se tornar mais forte, mas sobre continuar de pé, mesmo quando a vontade é de passar o dia trancado, chorando. Porque há dias em que não queremos ser fortes. Queremos, no máximo, respirar em paz e não lembrar de traumas que já foram perdoados.  

E sabe o que mais me incomoda? A sensação de que deveríamos estar gratos por tudo isso. "Ah, mas você aprendeu tanto!", dizem. Como se aprender com a dor fosse uma obrigação. Ninguém deveria precisar sangrar para crescer. Eu não queria "lições de vida" às custas da minha paz.  

Alguns dias, me perguntei: por que certas pessoas precisam enfrentar tantas batalhas? Por que algumas cicatrizes são tão profundas? Não tenho essa resposta. Talvez ninguém tenha. O que eu sei é que esses dias difíceis moldaram o meu olhar para o mundo. Eu, James, não sou mais o mesmo. Eu não sei se isso me tornou mais forte, mas me tornou mais sensível. E isso, para mim, já é um ganho.  

Hoje, olho para o meu passado com menos revolta. Isso não significa que eu aceitei tudo por completo ou que perdoei 100%. Significa que, aos poucos, estou me libertando dele. Porque perdoar não é esquecer, e seguir em frente não é fingir que nada aconteceu. Eu não preciso amar minha dor para entender que ela faz parte de quem eu sou e que, de alguma forma, esse trauma me ensinou a ser mais forte.  

Então, se você também carrega essas memórias que pesam, saiba que você não está só. E não acredite quando disserem que isso vai "te deixar mais forte". Se quiser chorar, chore. Se quiser parar, pare. Se quiser gritar, grite. Você não precisa ser forte o tempo todo. Só precisa ser você.  

E isso já é força o suficiente.  

Com amor, James. 

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