Leia ouvindo: Line By Line - JP Saxe & Maren Morris 💭
Desde que comecei a sentir quem de fato eu era de verdade, percebi que vivemos em tempos onde a aparência vale mais do que a essência. E no mundo gay, isso fica ainda mais claro. Basta abrir um aplicativo de relacionamento ou conferir o feed do Instagram para perceber como tudo gira em torno do corpo perfeito, do estilo impecável e da vida que parece sempre excitante e cheia de histórias e riqueza para mostrar e contar. Mas a pergunta que fica é: o que sobra depois que a estética passa?
A verdade é que essa superficialidade no mundo gay não é só sobre corpos bonitos. Hoje, com dinheiro, isso é fácil. E isso não se trata apenas de beleza ou de querer estar com alguém "dentro dos requisitos". Ela se reflete nas relações, na forma como as amizades são construídas ou, melhor, descartadas. Muitas vezes, o que conta não é quem você é, mas o que você pode oferecer em termos de status, beleza, posses ou até mesmo conveniência.
Isso cria um ciclo vicioso. Todo mundo quer ser desejado, mas poucos querem ser verdadeiros com aqueles que cruzam seu caminho. As conversas não vão além do “Oi, tudo bem?”, e quando vão, muitas vezes caem em perguntas curtas, direcionadas para onde mora, o que faz, qual é a posição sexual, qual é a academia, se treina perna ou se faz parte do "time dos tanquinhos". Parece que estamos sempre tentando vender uma versão idealizada de nós mesmos, com medo de mostrar nossas falhas, nossas inseguranças, nosso verdadeiro eu.
E aí vem um dos maiores problemas: as pessoas não se permitem sentir. O medo de se envolver, de se apegar, de parecer “carente” ou “frágil” faz com que muitos optem por uma postura desapegada. A lógica é clara: quanto menos eu demonstrar, menos vulnerável fico. Mas será que isso realmente nos protege? Ou será que estamos apenas nos afastando da possibilidade de viver algo verdadeiro?
A superficialidade também se reflete na forma como o desejo é encarado. O que deveria ser natural acaba virando um jogo de conquista e validação. Queremos ser desejados, queremos alimentar o ego, mas nem sempre queremos o outro de verdade. E quando o desejo passa, quando o mistério some, resta o quê? O vazio.
O mais curioso é que, no fundo, todo mundo sente falta do relacionamento verdadeiro. E isso não é só sobre namoro, mas sobre amizade também. Todo mundo quer ser amado, quer se sentir especial, quer encontrar alguém que olhe além do corpo e enxergue a nossa alma. Mas como fazer isso quando as interações são moldadas por regras invisíveis que desencorajam o sentimento e incentivam o desapego?
Eu mesmo já me vi preso nesse ciclo. Já tentei me encaixar, já busquei essa validação, já me frustrei por não ser suficiente para alguém que nunca se permitiu me conhecer de verdade. Mas, com o tempo, percebi que a superficialidade só existe porque a gente permite que ela continue.
No fim das contas, a escolha sempre será nossa. Podemos seguir o fluxo e continuar participando desse jogo, ou podemos tentar quebrar esse padrão, que atrasa nossas vidas e, para ser sincero, não vejo vantagem alguma nisso. Podemos escolher ser menos bonecos e sermos mais reais, mais realistas, mais verdadeiros com a gente e com o próximo.
E quem sabe, ao fazer isso, a gente não encontra algo que realmente valha a pena?
Com amor, James.
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