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Quando o corpo sente o que o coração ainda não entende

 

Imagem: Eugene Golovesov | Pexels

Leia ouvindo: The blackest day -  Lana dela Rey 💭

Viajar sempre mexe comigo. Parece que, longe de casa, deixo de ser quem esperam que eu seja e volto a ser apenas eu. Escuto mais a mim mesmo, observo mais, sinto mais. Quando tudo do lado de fora desacelera, é como se dentro de mim algo começasse a falar mais alto.

Existe uma liberdade em estar em outro lugar que desperta saudades difíceis de nomear. No fundo, nunca é apenas sobre retornar para o mesmo lugar sendo a mesma pessoa. É, na verdade, sobre reencontrar versões minhas que ficaram em outros tempos: mais leves, mais inteiras, mais entregues ao que sentiam sem medo do depois. Viajar renova, deixa a gente puro, quase novo.

Alguns momentos não duram, mas deixam marcas. Pode ser o vento batendo no rosto numa praia silenciosa. Pode ser uma música nos fones, trazendo lembranças que eu nem sabia que estavam guardadas. Ou pode ser o próprio corpo reagindo, com desejo, com arrepio, como se tivesse pressa de viver algo que não precisa de justificativa.

E aí vem a pergunta: SERÁ QUE AINDA SABEMOS SENTIR DE VERDADE? Ou aprendemos apenas a esconder tudo o que grita dentro da gente? Talvez a estabilidade que tanto buscamos seja, no fundo, uma forma de medo. Medo de desejar, de se perder, de querer demais sem saber lidar com as consequências.

Aprendi que as respostas nunca dão conta dos “e se” que moram no coração. Às vezes, o agora é mais forte que qualquer plano. Mesmo que a razão tente mandar, o corpo não mente: ele sente, chama, reconhece o que nos faz bem. E isso não dá pra fingir, muito menos apagar.

O curioso é que a gente se protege tanto que esquece como é bom se entregar. Permitir-se, mesmo sem promessas, mesmo que seja só por um instante. Há sentimentos que nascem e morrem no mesmo dia, mas que viram eternos na lembrança. Não é sobre a duração, é sobre a marca que deixam.

Existem desejos que simplesmente chegam, sem pedir licença. E talvez a forma mais bonita de respeitá-los seja não resistir. Acolher. Respirar. Deixar ser.

Escrevo estas linhas ouvindo o mar e com uma vontade enorme de chorar, e termino no aeroporto, sem saber se é alegria ou tristeza. Só sei que é verdadeiro. Algo em mim se abriu, mesmo que eu não saiba ainda o que fazer com isso.

No fim, acho que é disso que a vida precisa da gente: coragem para sentir. Para viver o agora, mesmo sem entender tudo. E se, no fim, restar apenas uma lembrança bonita, já é o suficiente.

Com amor, James.

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