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É tão bom voltar a ser quem deveríamos ser

 

Imagem: Pierre-Alexandre Papillon | Pexels
Leia ouvindo: Georgia - Vance Joy

Tem momentos na vida em que a gente se perde um pouco, e esse pouco, com o tempo, se torna muito. E esse muito, em algum momento, transborda. Não porque a gente quer, mas porque a rotina, muitas vezes imperceptível, nos leva para longe de quem realmente somos. De repente, estamos ali, cumprindo as metas do dia a dia, criando expectativas, tentando ser sempre o mais gentil, o melhor amigo, o melhor filho. E, sem perceber, deixamos de lado aquela essência que nos fazia sentir vivos.

Mas o bom disso tudo é que sempre há tempo para acordar e voltar. Não importa o quanto a gente tenha se afastado, o caminho de volta está sempre ali, esperando pela nossa decisão de retomá-lo e viver com ele. Voltar ao que deveríamos ser não é retroceder, é um reencontro. Às vezes, é preciso parar por um instante e perceber o quanto nos afastamos de nós mesmos. E geralmente, é no silêncio que esse pensamento emerge, quando o barulho do mundo cessa e o coração começa a falar. E quando ele fala, ele não erra. Ele aponta para o que faz sentido, para o que traz calma, e nos diz:

“Você precisa voltar ao eixo. Já está mais do que na hora”.

Sei que nem sempre é fácil voltar. O medo, o apego, as dúvidas e a sensação de que “talvez não seja mais possível” tentam nos impedir. Mas quem disse que não é possível mudar o que desejamos? Podemos, sim. Um pouco de cada vez. Essa decisão é exclusivamente nossa. Muitas vezes, o maior obstáculo somos nós mesmos, com nossas desculpas, nossa preguiça e a nossa própria procrastinação. Criamos barreiras no coração para continuar onde estamos, mesmo que isso não nos faça felizes. É uma prisão invisível, que não apenas nos machuca, mas nos faz regredir a ponto de perder nosso tempo, o bem mais precioso que temos.

A boa notícia é que, ao tomar consciência disso, já percorremos metade do caminho. Quando percebemos que nos perdemos, o próximo passo é decidir voltar e mudar de fato, mesmo que isso custe caro. E, lá na frente, veremos o poder dessa decisão.

Outra coisa importante: tenha paciência. Ninguém muda da noite para o dia. Você não precisa ir rápido demais. Aliás, observe ao seu redor. Tudo o que é feito com calma acontece aos poucos — os reencontros, a busca por aceitação, o amor-próprio, o doar-se. Cada pequena escolha alinhada com quem somos é uma forma de voltar. Todas as suas decisões têm poder quando você foca nelas. Pode ser retomar um hábito antigo que te fazia bem, iniciar a leitura de um novo livro, experimentar aulas de esportes diferentes ou simplesmente dizer “não” para aquilo que não te acrescenta. Às vezes, se permitir descansar e sim, dormir também é viver, é uma forma de reencontro.

Não se trata de fazer grandes mudanças de uma vez. Trata-se de dar pequenos passos todos os dias. Um dia de cada vez, com paciência e coragem.

Às vezes, a gente se surpreende com o básico. E é esse básico que traz a mudança que tanto precisávamos. Pode ser combinar uma saída com os amigos, passar um domingo em família, tomar um chocolate quente em um dia frio ou simplesmente parar para apreciar o que está ao seu redor. São nesses pequenos instantes que a gente percebe: “Nossa, eu nunca estive tão longe de mim. E só agora percebi isso”.

E se estivermos longe, TUDO BEM TAMBÉM. Todo mundo erra, todo mundo se perde, todo mundo se encontra. O mais importante é lembrar que sempre dá para voltar. Voltar para quem somos. Voltar para o que é nosso. Voltar para o que foi encontrado após se perder. Voltar para a simplicidade de um dia de sol. Porque o mundo muda o tempo todo, e nem sempre mudamos com ele. Mas a nossa essência, o nosso eu mais íntimo, é o que nos mantém de pé.

No fundo, voltar para nós mesmos sempre será um ato de amor-próprio, de inteligência emocional e de aceitação. Essa mudança nos faz perceber que a nossa felicidade não está no outro, muito menos em coisas materiais. Ela está aqui, bem próxima, dentro de nós, no coração e na alma.

E assim, seguimos a vida, sabendo que, por menor que seja o passo, ele nos mantém mais próximos da paz que tanto buscamos e necessitamos. Então, se algum dia você sentir que está se afastando de quem é ou deveria ser, pare por um instante. Aprecie a vista, ouça o seu coração e decida mudar. Porque essa decisão é só sua. E, ao tomá-la, você vai perceber que essa foi uma das melhores escolhas que poderia ter feito. No fim, voltar ao que deveríamos ser sempre foi uma escolha nossa, desde antes mesmo de nascermos.

Com amor, James.

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