Tudo me lembra você

Imagem: Dmitry Demidov | Pexels

Leia ouvindo: Not For Me (Acoustic) - Sarah Proctor 💭

É incrível como certas pessoas conseguem deixar marcas tão profundas que, mesmo depois de um tempo, qualquer coisa ao nosso redor faz com que a memória delas volte com força total. Eu diria até que é meio estranho, sabe? Você entra num lugar e, de repente, tudo ao seu redor se torna um gatilho: as risadas aparecem na mente, o toque vira uma lembrança inevitável, e os momentos vividos passam como um filme. Dá até aquela sensação esquisita no peito, como se tudo estivesse acontecendo de novo. E, no meio disso, vem a pergunta: por que nos apegamos tanto?

Acho que a resposta está no que mais buscamos na vida. Não falo só de grandes sonhos ou realizações, mas das coisas simples, básicas, que preenchem nossa alma: amor, carinho, afeto, um olhar sincero, uma conversa que mostra que nunca estaremos sozinhos. No fundo, tudo isso se resume a uma única coisa: o amor. Não o amor que a gente vê nos filmes, mas aquele amor real, cheio de falhas, que faz a gente se sentir vivo e conectado com quem de fato somos e com quem nos rodeia.

Buscamos tanto ter "esse amor" e, quando temos, o nosso lado crítico sempre pesa mais. Dizemos a nós mesmos que somos emocionados, que estamos buscando preencher a nossa solidão. Pelo contrário, jamais acreditarei que isso é um tipo de carência. Talvez seja mais sobre sermos humanos, sobre termos a necessidade diária de amar, independente de onde esse amor esteja depositado, seja em alguém, na natureza, nos animais ou na família. A gente precisa de sentido, de propósito; isso é a vida. E, quando encontramos alguém que se alinha com esse propósito, que nos faz sentir inteiros, é quase impossível NÃO SE APEGAR.

Digo e repito: é impossível não se apegar. Parece que, por um instante, tudo faz sentido. E, mesmo que depois essa pessoa vá embora, o que fica não é só a saudade, é a gratidão por ter vivido algo tão simples e muito, muito verdadeiro.

Porque, no fundo, cada experiência de amor nos transforma, nos ensina e nos prepara para ser quem realmente somos.

Ontem, resolvi ir jantar em um lugar próximo de onde costumávamos sentar. Foi uma experiência diferente. Chorei, lembrei da abertura de nossas vidas e da troca de confiança entre nós, e senti o quanto aquela ida me trouxe mais revelações para entender que nem todo mundo é para ficar. Enquanto eu esperava meu pedido, fiquei pensando em quantas histórias já se passaram ali, naquele mesmo espaço. Quantas pessoas não se sentaram nas mesmas cadeiras, talvez chorando a saudade de alguém, talvez sorrindo ao lado de quem amam ou simplesmente contemplando a beleza do mar pessoense. Me peguei imaginando que, assim como eu, elas também carregavam suas lembranças, seus sentimentos inacabados, suas histórias que ainda os fazem lembrar.

No fim, percebi que, por mais que tudo me lembre você, absolutamente tudo, isso não é algo ruim. É a prova de que vivi uma amizade verdadeira, intensa, e que, bem no fundo da minha alma, deixou marcas. E essas marcas, por mais que às vezes doam, são parte de quem eu sou agora. Porque aprendi que cada pessoa que passa pela nossa vida, de alguma forma, deixa um pouco de quem de fato é e acaba levando uma pequena parte de nós. E é assim que seguimos. Bem sabemos que, por mais que a gente sofra, algo normal, a gente aprende a continuar construindo memórias, aprendendo a deixar ir, mas sem jamais esquecer o que nos fez ser mais humanos.

Então, mesmo que hoje eu esteja aqui, sozinho, naquele mesmo lugar, ou passe por ele diversas vezes, eu sei que essa solidão não é vazia. Ela carrega lindas lembranças de um tempo que foi bonito, e isso já é o suficiente. Afinal, se tudo me lembra você, é porque, de alguma forma, você foi importante. E, no fundo, é isso que importa.

Com amor, James. 

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